NOVAS CAMANDUCAIAS - Afogados no carnaval

Um belo rio, um dia de carnaval e 17 garotos atirados às águas

2006, Pernambuco

Zineide Maria perdeu o seu filho Zinael
Foto: 
Alexandre Severo/acervo JC Imagem


Os jovens amigos do bairro Afogados não sabiam, mas o carnaval de 2006 em Recife guardava um horror em seu ventre. E ele se revelou abruptamente, quando iam para a folia no Recife Antigo. Duas viaturas da Polícia Militar os interceptaram, por, supostamente, terem sido confundidos com um grupo que realizava furtos na região.

Intimidados com revólveres, os 17 jovens foram obrigados a se abarrotarem nos veículos. Deram várias voltas na cidade, que terminaram em sessões de tortura, com espancamento e agressões de cassetetes.  Pararam às margens do Capibaribe, junto à ponte Joaquim Cardozo, e sob a mira das armas, os garotos ouviram a ordem para atravessassem o imenso rio a nado. 

Os adolescentes se desesperaram, sobretudo dois deles que não sabiam nadar. Mas os gritos de alerta Diogo não sensibilizaram o sargento Aldênis Carneiro da Silva, nem os soldados José Marcondi Evangelista e Ulisses Francisco da Silva, muito menos o superior do grupo, o tenente Sebastião Antônio Félix, que obrigaram todos os garotos a se atirarem à agua. Diogo e seu amigo Zinael não chegariam à outra margem; morreram afogados no rio-símbolo de Pernambuco.

Aldênis, José Marcondi, Ulisses e Sebastião Félix foram condenados em 2015 por dois homicídios triplamente qualificados e 12 tentativas de homicídio (3 vítimas não foram identificadas). As sentenças foram de 96 a 150 anos de prisão em regime fechado, mas os policiais não passaram nem uma noite presos. Recorreram em liberdade e foram absolvidos em novo julgamento em 2016. Estão livres para o próximo carnaval.